José Manuel Oliveira, DN - 3 Novembro 2002
Um pescador morreu na manhã de ontem no Pontal da Carrapateira, em Aljezur, vítima de uma queda de mais de dez metros de altura. Faustino Monteiro de Carvalho, de 38 anos, natural de Avões (Lamego) e residente em Olhão, passara a noite a pescar nas falésias daquela zona da costa vicentina. Uma perda momentânea de equilíbrio terá estado na origem do acidente.
"Quando aqui cheguei, havia muita gente e muita confusão. Tinha sido um pescador que acabava de morrer". Foi desta forma que António Fialho, de 52 anos, natural de Lagos e há muitos anos envolvido na prática da pesca desportiva, descreveu ao DN os momentos de pânico e de pesar que se viveram ontem no Pontal da Carrapateira. Dois outros pescadores que se encontravam nas proximidades tentaram, ainda, salvar Faustino Monteiro de Carvalho, mas era já tarde de mais.
A estação de Sagres do Instituto de Socorros a Náufragos recebeu o alerta cerca das 8 e 45, tendo mobilizado para o local uma embarcação salva-vidas. Na operação participaram, também, um barco de pesca e dois bombeiros da corporação de Aljezur, tendo o corpo da vítima sido retirado das águas pouco antes das dez horas, seguindo para a morgue do Hospital Distrital do Barlavento, em Portimão.
Segundo vários testemunhos recolhidos pelo DN no local, o pescador preparava-se para "meter num cesto um polvo que acabara de capturar quando escorregou e bateu com a cabeça numa rocha, caindo, de seguida, à água". Tudo aconteceu numa fracção de segundos, mas, lembram, ainda ouviram a vítima gritar por socorro.
Não foi esta a primeira tragédia a ocorrer naquela zona. No entanto, esse facto parece não perturbar a maioria dos que, neste local, se dedicam à pesca desportiva aos fins-de-semana, vindos de outras zonas do Algarve e, até, de outras áreas do País, como Setúbal e Lisboa, por exemplo. Espalhados pelas falésias da Carrapateira, em alguns casos com mais de 20 metros de altura, inúmeros pescadores prosseguiam ontem a sua actividade, visivelmente indiferentes aos riscos que corriam.
"Há, de facto, muitos abusos e existem aqui sítios para onde não vou por serem bastante perigosos. Quando chamo a atenção de outros para essa situação, ainda me chamam maluco e medroso. Depois acontecem estas tragédias", lembrou ao DN António Fialho, que, a partir de agora, passará a utilizar sempre um colete de salvação, a fim de "minimizar" os efeitos de uma eventual queda ao mar. "Se houver algum problema, pelo menos o corpo não irá ao fundo", observou, lamentando, uma vez mais, que outros não tomem as devidas precauções.