A Lagoa de Santo André é uma lagoa costeira de tipo mediterrânico com água salobra, separada do mar por uma faixa estreita de dunas. É constituída por um corpo central com cerca de 150 hectares, e dois sistemas de braços, que se prolongam para sul, e onde se situam pequenas lagoas, designadas por poços (Poço do Ortigão, Poço dos Caniços, Poço do Barbaroxo de Baixo, Poço do Barbaroxo de Cima). Apresenta ainda uma grande diversidade de biótopos, que incluem praias, ilhotas arenosas, margens vasosas, caniçais, terrenos encharcados e riachos.

Sendo originalmente um estuário, fechado pela primeira vez no sec. XVIII, a lagoa caracteriza-se pela marcada variação sazonal no regime hídrico, devido à abertura ao mar a que é sujeita todas as primaveras, artificialmente, como medida de gestão da lagoa.

A confluência de meios marinho, duçaquícola e terrestre, conduz à existência de elevada diversidade biológica, representada por cento e seis espécies de aves aquáticas, cinquenta e três espécies de aves terrestres, dezasseis espécies de mamíferos, de que se destaca a lontra (Lutra lutra), treze espécies de répteis e anfíbios, uma comunidade de ictiofauna particular, de que faz parte a enguia (Anguilla anguilla), duzentos e sessenta e oito macroinvertebrados bentónicos e duas espécies de libélulas de distribuição muito localizada na Europa (Orthetrum nitidinerve e Bachythemis leuscostica). Também fazem parte do inventário natural da lagoa de Santo André plantas endémicas de Portugal como a Linaria ficalhoana, Armeria rouyana e Ononis hackelli e espécies de flora de conservação prioritária como Ionopsidium acaule e Thymus camphoratus. Na área, os pântanos calcários representam um habitat de conservação prioritária.

A Lagoa de Santo André é uma das zonas húmidas nacionais mais importantes para as aves. Ocorrem de forma regular espécies ameaçadas em Portugal e na Europa como o Papa-ratos (Ardeola ralloides), a Garça-vermelha (Ardea purpurea), o Colhereiro (Platalea leucorodia), o Marreco (Anas querquedula), a Águia-sapeira (Circus aeruginosus), a Andorinha-do-mar-anã (Sternaalbifrons) e a Felosa-unicolor (ocustella lusciniodes). Algumas espécies em perigo de extinção em Portugal, como o Abetouro (Botaurus stellaris), Cegonha-negra (Ciconia nigra) e o Caimão (Porphyrio porphyrio) ocorrem igualmente na lagoa.

A área é ainda importante como local de passagem e invernada para o Galeirão-comum (Fulica atra), como principal local de nidificação no país do Pato-de-bico-vermelho (Netta rufina) e local de migração outonal de diversas espécies de passeriformes. Entre as aves terrestres ocorrem o Peneireiro-cinzento (Elanus caeruleus), Ógea (Falco subuteo), Sisão (Tertarx tetraxi), Noitibó (Caprimulgus europaeus) e Alcaravão (Burhinus oedicnemus).

A avifauna encontra habitat preferencial no seio da vegetação palustre formada por Caniços (Phragmites australis), Juncos (Scirpus maritimus e S. lacustris), Spartina (Spartina versicolor), Tamargueiras (Tamarix sp.) e Salgueiros (Salix sp.), este último em regressão na área.

Situada a cerca de 8km a sul, a Lagoa da Sancha, de dimensões muito inferiores às da Lagoa de Santo André, encontra-se igualmente separada do mar por uma faixa dunar. Constitui um importante local de alimentação, abrigo e nidificação de aves, em particular da Garça-vermelha (Ardea pupurea).

Pela sua importância natural, as lagoas de Santo André e da Sancha encontram-se classificadas nacional e internacionalmente. Para além de Reserva natural, constituem uma Zona de Protecção especial segundo a Directiva Aves, uma Zona Húmida de Importância Internacional pela Convenção de Ramsar e estão incluídas na lista de Sítios de Interesse para a Conservação ("Comporta/Galé") da Rede Natura 2000.

A construção clandestina, a sobre-pesca utilizando malhagens proíbas por lei, a caça, a drenagem de efluentes não dragados, são as principais ameaças a que estas lagoas estão sujeitas. Acresce o potencial perigo do atravessamento da Reserva pelo gasoduto Sines-Aveiras.

O nosso caminho segue para Sines, fazendo um breve trajecto pela via-rápida.

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