Costa VicentinaReservasContactosEnglishEnglishPágina principal



Principal > Marés do Sudoeste > O Homem nas marés

A zona das marés sempre foi um importante elo de ligação entre as populações do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina ao mar. No estuário da ribeira do Seixe, apanhavam-se ostras e ameijoas há três mil anos e nessa prática ancestral poderá ter estado a origem da extinção daqueles bivalves no local.

Não existindo grandes portos de pesca, o acesso ocasional às riquezas do mar faz-se por meios artesanais, durante as marés vivas. A apanha do polvo, das navalheiras, dos perceves, dos mexilhões, dos ouriços-do-mar e, mais recentemente, das lapas, constitui um rendimento complementar da economia agrícola local. Como "fazer a maré" (designação das actividades de mariscagem na baixa-mar, por alturas das marés vivas), exige estar com cerca de uma hora antecedência na praia, para "ir atrás da maré" (vazante), há ainda tempo para o trabalho nos campos.

Mariscador de outros tempos Os instrumentos são rudimentares: o "pexeiro" serve para apanhar o polvo e consiste num comprido gancho, preso a uma vara de madeira, quase sempre terminando numa "arrelhada" (uma pequena pá de ferro, que serve para desprender lapas ou mexilhões). Com o "pexeiro" procuram-se os polvos nas cavidades das rochas das poças de maré (as "covas"), onde o Octopus vulgaris se refugia durante o recuo das águas. Por vezes, é utilizada uma "negaça" (engôdo) com sardinha, para que o polvo se exponha aos olhos do pescador. Inteligente mas guloso, o polvo lança um raio para tactear a potencial presa e denuncia a sua presença. Enganchado, é puxado e batido na rocha, indo de imediato para dentro do saco. Na zona de Aljezur não se utiliza o método de "virar o capelo" para matar o polvo, pois isso é tido como falta de perícia, para além que se torna inestético - o troféu deve ser exibido intacto, muitas vezes é seco ao sol.

MariscadorNa apanha da navalheira (nesta zona chamada caranguejo, pois não há perigo que se confunda com caranguejo de rio) apenas se utilizam as mãos. Escondidas nas fendas rochosas, tapadas por algas, as navalheiras são encurraladas pelo cerco das duas mãos humanas, que tacteiam em direcção ao centro onde se poderá encontrar a navalheira. Esta não hesita em "morder" o pescador com as pinças maiores, mas as mãos estão já calejadas e firmam-se sobre a carapaça, os dedos agarrando o animal por detrás das pinças. Por vezes, as mulheres mais velhas ostentam centenas de minúsculas cicatrizes no abdómen, causadas pela prática de recolher, com toda a naturalidade, os caranguejos no regaço do avental. Presiste um certo código de conduta entre estes homens e mulheres: onde um marisca os outros afastam-se; se os espécimes são muito pequenos são mandados em paz.

Actualmente, os velhos pescadores/mariscadores da maré são confrontados com a forte concorrência de mergulhadores, que não estão limitados pelas marés e utilizam arpões. As capturas tradicionais com "pexeiro" diminuem de ano para ano, bem como o tamanho dos espécimes apanhados. Com o advento do turismo de massas, que lenta mas inexoravelmente vai chegando às praias naturais outrora desertas desta costa, assiste-se a um outro fenómeno: o da delapidação total dos espécimes que vivem mais junto à praia. Hordas de veraneantes citadinos rodeiam pedras onde se desenvolvem juvenis de percebes, mexilhões, burgaus e apanham tudo, deixando a rocha nua de qualquer animal. A renovação natural é cada vez mais lenta e problemática. A lapa, fácil de apanhar, e que nunca teve uso gastronómico nesta região, é agora vendida para exportação, para França ou Japão.Polvo Não existe qualquer regulamentação que limite as quantidades apanhadas nem períodos de defeso. Esse só é feito pela braveza do mar, que, ao manter afastados os predadores, concede algum tempo para alguma regeneração das espécies.

A ânsia de apanhar tudo o que é comestível é tal, que uma prática extraordinariamente perigosa tem aumentado: os "aparelhos". Estes não são mais do que pedaços de fio de nylon com anzol engodado numa ponta, amarrados a uma pedra, largada nos baixios, indiscriminadamente. Na vazante seguinte, os donos destes artefactos verificam se algum peixe ficou preso nos anzóis. E depois abandonam-nos onde estavam. Outros utilizadores da praia, desprevenidos, ficam feridos nestes anzóis errantes.
Os acidentes mortais são, igualmente, uma realidade nesta costa, generosa mas que não perdoa descuidos.

Pescador morre no Pontal da CarrapateiraPescador morre no Pontal da Carrapateira (abre nova janela)

O impacto das actividades humanas na zona intertidal é hoje uma preocupação assumida em diversos pontos do mundo, quer por associações ambientalistas quer por organizações governamentais ou locais. É o caso da cidade de Pacific Grove, na Califórnia. A cidade constituiu um subcomité de investigação designado "Pacific Ghrove Pt. Pinos Tidepool Task Force", financiado pela autarquia, pela Packard Foundation e pelo Monterey Bay National Marine Sanctuary.

Página seguinte

   


Página principal | Reserva | Costa Vicentina | Contactos


Site criado por: