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A zona das marés sempre foi um importante elo de ligação entre as populações do Sudoeste Alentejano e da Costa Vicentina ao mar. No estuário da ribeira do Seixe, apanhavam-se ostras e ameijoas há três mil anos e nessa prática ancestral poderá ter estado a origem da extinção daqueles bivalves no local. Não existindo grandes portos de pesca, o acesso ocasional às riquezas do mar faz-se por meios artesanais, durante as marés vivas. A apanha do polvo, das navalheiras, dos perceves, dos mexilhões, dos ouriços-do-mar e, mais recentemente, das lapas, constitui um rendimento complementar da economia agrícola local. Como "fazer a maré" (designação das actividades de mariscagem na baixa-mar, por alturas das marés vivas), exige estar com cerca de uma hora antecedência na praia, para "ir atrás da maré" (vazante), há ainda tempo para o trabalho nos campos.
Actualmente, os velhos pescadores/mariscadores da maré são confrontados com a forte concorrência de mergulhadores, que não estão limitados pelas marés e utilizam arpões. As capturas tradicionais com "pexeiro" diminuem de ano para ano, bem como o tamanho dos espécimes apanhados. Com o advento do turismo de massas, que lenta mas inexoravelmente vai chegando às praias naturais outrora desertas desta costa, assiste-se a um outro fenómeno: o da delapidação total dos espécimes que vivem mais junto à praia. Hordas de veraneantes citadinos rodeiam pedras onde se desenvolvem juvenis de percebes, mexilhões, burgaus e apanham tudo, deixando a rocha nua de qualquer animal. A renovação natural é cada vez mais lenta e problemática. A lapa, fácil de apanhar, e que nunca teve uso gastronómico nesta região, é agora vendida para exportação, para França ou Japão. A ânsia de apanhar tudo o que é comestível é tal, que uma prática extraordinariamente perigosa tem aumentado: os "aparelhos". Estes não são mais do que pedaços de fio de nylon com anzol engodado numa ponta, amarrados a uma pedra, largada nos baixios, indiscriminadamente. Na vazante seguinte, os donos destes artefactos verificam se algum peixe ficou preso nos anzóis. E depois abandonam-nos onde estavam. Outros utilizadores da praia, desprevenidos, ficam feridos nestes anzóis errantes.
Pescador morre no Pontal da Carrapateira O impacto das actividades humanas na zona intertidal é hoje uma preocupação assumida em diversos pontos do mundo, quer por associações ambientalistas quer por organizações governamentais ou locais. É o caso da cidade de Pacific Grove, na Califórnia. A cidade constituiu um subcomité de investigação designado "Pacific Ghrove Pt. Pinos Tidepool Task Force", financiado pela autarquia, pela Packard Foundation e pelo Monterey Bay National Marine Sanctuary. |
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