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Respeito
pela Natureza e Tradição Na Quinta Pero Vicente, desfruta-se da natureza respeitando-a. A relação com a terra, com o mar, com os matos e os bichos é de mútua tolerância. Os espaços "ajardinados" são-no recorrendo, sobretudo às ervas aromáticas e medicinais da região, acrescentando uma ou outra espécie "estrangeira" para demonstrar a variedade biológica (http://saude.sapo.pt/gkB30/110410.html). Alguns exemplares de espécies exóticas (caso da acácia), teimam em por cá andar. Aos mais antigos respeitamos a sua idade, mas tentamos controlar a sua expansão. Os mesmos cuidados foram postos no restauro da casa, e nas infraestruturas de apoio. De taipa e cal A arquitectura rural da Costa Vicentina é a síntese singular das suas especificidades sociológicas e geográficas. Em primeiro lugar, temos a história económica e social da desta região: de povoamento disperso, sem tradição aristocrática, primeiro, ou burguesa posteriormente, as suas aldeias, vilas e povoações não têm solares brasonados ou imponentes casas de ofícios, como no norte do país. A agricultura foi sempre a principal actividade das suas gentes. Mesmo os actuais portinhos de pesca artesanal são produto de uma reconversão recente: agricultores que foram cultivar a costa rochosa. É disso exemplo a aldeia de Azenha do Mar, junto ao Brejão, a norte de Odeceixe. A apanha de algas para fins industriais (das quais se extrai o agar agar) tem apenas poucas dezenas de anos. A mariscagem, actividade importante para o complemento das economias familiares, faz-se geralmente em regime de trabalho parcial e só recentemente ganhou expressão (com o perverso efeito da destruição demasiado rápida dos recursos marinhos). Assim, as casas da Costa Vicentina foram feitas com um ingrediente muito especial: tempo. Tempo para construir a essência das suas parede: a taipa. Mais do que um material, a taipa é uma técnica herdada das culturas árabes e berbéres do sul da península Ibérica. Terra barrenta, pequenas pedras, sobretudo seixos rolados, água e palha. Tudo batido em cofragens de madeira, durante muitos dias e com secagem ao sol. Faziam-se assim grandes blocos percorridos por furos resultantes dos paus que serviam para o seu levantamento. Estes tijolos gigantes proporcionam espessas paredes (com 60 centímetros ou mais, como o é o caso da casa da Quinta Pero Vicente). Este material proporciona um excelente isolamento térmico e sonoro, absolutamente indispensáveis para resistir às nortadas (vento forte de norte) que se fazem sentir nesta costa. A telha canuda ou telha mourisca (a distinção está numa pequena diferença de curvatura das suas "bocas") são outro dos elementos característicos das casas da Costa Vicentina.
À primeira vista, as casas vicentinas assemelham-se aos montes
alentejanos, ali ao pé. Porém,
diferem substancialmente quer das congéneres alentejanas quer das casas
da costa sul algarvia, estas últimas muito mais marcadas pela arquitectura
magrebina. As suas paredes, sendo caiadas, brancas, não ostentam as
barras amarelas ou azuis características do Alentejo. Igualmente as
chaminés vicentinas são bem mais pequenas e discretas do que as longas
chaminés alentejanas - que terminam, no interior, em largas zonas de
copa, onde não só se cozinha como se come ou se fazem tarefas artesanais. A forra
do tecto vicentino era geralmente em cana - intervalada quando se tratavam
de instalações de apoio, Também são muito distintas das restantes casas
algarvias. Não ostentam a chaminé rendilhada, imagem de marca do Algarve
do Sul. Os seus telhados não terminam em açoteias, antes exibem duas
águas simples, uma delas prolongando-se, muitas vezes, até um nível
muito baixo. Esta aba mais atarracada é, quase sempre, o local das instalações
de apoio: o alpendre para a carroça, o estábulo para a vaca ou para
a mula, o celeiro do milho ou da batata doce. Esta estrutura, de ângulos
rectos, é, por vezes, quebrada por "cunhas" de pedra - os "mourões".
Destinam-se a dar sustentabilidade estrutural à casa, visto esta não
ter pilares nem fundações profundas. As casas de taipa tradicional incorporam
um saber empírico que as torna extraordinariamente resistentes às intempéries
e aos sismos. Actualmente, devido ao complexo e moroso trabalho, sempre
artesanal, de construção dos blocos, a taipa corre o risco de desaparecer
da memória colectiva dos construtores de casas vicentinas. Uma alternativa,
razoavelmente próxima, consiste no uso de tijolos de adobe, de fabrico
semi-industrial, que se produz no interior da serra algarvia, por iniciativa
de neo-residentes estrangeiros. No velho monte foi utilizado, numa das suas paredes exteriores, em alternativa aos blocos de taipa, que já não se fabricam, tijolos de adobe. Uma das vantagens deste material, muito semelhante à taipa, é o facto de não necessitar de um compasso de espera de cerca de um ano para aplicação do reboco de cal. Esse tempo era necessário para que a taipa perdesse toda a água que era incorporada na sua feitura. O adobe tem muito menos humidade. Contudo, devido à excelente qualidade e estado de conservação da velha taipa, foi possível manter em mais de 70 % do edifício os materiais originais. A cana dos tectos foi substituída por pinho nórdico, para maior conforto e isolamento térmico, à excepção dos alpendres exteriores. |
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