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Flora Descrição
"A
flora litoral do sudoeste de Portugal é caracterizada pelo cruzamento
de influências Norte Atlânticas, Mediterrânicas e Africanas, de que resultam
condições ecológicas singulares e uma enorme diversidade de fauna e flora,
o que confere uma enorme riqueza natural à região. A flora vascular desta
região caracteriza-se pela sua extrema particularidade, reunindo várias
espécies raras, endémicas e ameaçadas, muitas das quais classificadas
e com estatuto prioritário de protecção nacional e comunitário (...) Uma
vez que a vegetação é predominantemente mediterrânica, surpreende a presença
de espécies serranas e de climas húmidos, tão perto do mar e no limite
da sua tolerância ecológica, verdadeiras relíquias de uma flora distante
em tempo e espaço. (...) Estamos pois perante uma paisagem rica e diversificada,
repleta de surpresas". A flora do sudoeste alentejano e costa vicentina diverge ao longo das três grandes áreas em que se pode subdividir o território do Parque Natural: o planalto litoral, as serras litorais e o barrocal ocidental. O planalto litoral, situado entre S. Torpes e Vila do Bispo, de constituição essencialmente arenosa, representa o território mais extenso e contínuo. É, actualmente, uma área predominantemente agrícola, tendo existido, no passado, grandes zonas cobertas com urzais hidrofíticos e juncais, semelhantes a certas áreas do Minho e Galiza. No grande planalto litoral podemos encontrar notáveis campos dunares foto do "medo" do Pero Vicente suspensos sobre as arribas marítimas ("medos"). Este habitat, rico em carbonato de cálcio, suporta uma flora com plantas endémicas. Em certos locais, por exemplo na zona da Zambujeira do Mar, Aljezur e Sagres, a descarbonatação das dunas foi tão intensa que no seu tapete vegetal típico, de sargaçais e carrascais, formaram-se manchas de urzal. Por outro lado, noutros pontos da costa, a carbonatação intensa durante o passado Holocénico consolidou os enormes campos dunares existentes e possibilitou a formação, em pontos dispersos, de uma rocha rija. Estas verdadeiras ilhas terrestres de pedra calcária detêm espécies únicas no mundo, destacando-se as dos géneros Avenula e Chaenorhinum . Além destas, encontram-se também outras que para ali migraram num passado próximo, como é o caso de orquídeas e narcisos. Nalguns pontos, sobre a plataforma rochosa, uma planta originária da África do Sul cobre quase completamente o solo formando um tapete vivo - o chorão. Esta planta tem vindo a invadir o litoral com extraordinário êxito - em parte devido à sua eficaz forma de reprodução assexuada - ocupando o lugar das espécies indígenas. Nos medos do Pero Vicente, por exemplo, podem-se observar "campos" de chorões em feroz competição com matos brancos, camarinheiras e outros arbustos nativos. A sua expansão é, por vezes, induzida pela actividade do homem, que elimina o coberto natural para esporádicos cultivos de espécies de sequeiro. Na esteira das fresas dos tractores, o chorão infestante penetra bem dentro do ecossistema tradicional. Outras espécies são bem mais "simpáticas": o Asplenium marinum é um feto que resiste ao spray salino da água do mar e, por isso, cresce nas fendas húmidas da falésia perto do nível da rebentação. A rocha apresenta-se por vezes multicolor por se encontrar revestida de líquenes. No topo das arribas, em locais bem expostos à atmosfera marinha, vamos encontrar exemplares isolados de salgadeira. As serras litorais marginam a oriente o grande planalto, contaminando-o com a sua flora própria. Na foz dos grandes barrancos, como por exemplo do Rio Mira, Ribeira do Seixe, Ribeira de Aljezur e entre Arrifana e Vila do Bispo, surpreende encontrar tão próximas do mar plantas serranas, ali no limite da sua tolerância ecológica (sob acção do vento carregado de sal). Nos relevos das Serras do Cercal, Brejeira, Monchique e Espinhaço de Cão mantêm-se ainda presentes interessantes espécies, verdadeiras relíquias de épocas com climas mais húmidos. São particularmente notáveis as semelhanças entre algumas espécies serranas e as suas congéneres distribuídas pelas serras chuvosas do Sul da Andaluzia e Noroeste do Maghreb. Destacam-se os géneros Centaurea , Senecio , Bupleurum , Rhododendron , e Quercus . Esta identidade vegetal manifesta-se, também, na vegetação das vertentes com os seus medronhais frondosos. O barrocal inicia-se na costa de S. Vicente, estendendo-se para Leste, numa sucessão de pequenas colinas calcárias vegetadas por uma flora mediterrânica típica dos solos ricos. O ponto de intersecção do barrocal com o grande planalto litoral e as serras litorais é, simultaneamente, o ponto de encontro da costa ocidental nebulosa e fresca com a costa meridional luminosa e quente. Todas estas componentes combinam-se no planalto de Sagres. Aqui estão, também, representados alguns elementos comuns à distante flora do Mediterrâneo, destacando-se os dos géneros Viola , Helianthemum , Succowia e Ulex . Para estas espécies, o planalto de Sagres e a sua costa são o único reduto em Portugal e revelam o carácter excepcional deste território. A flora do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina é composta por cerca de 750 espécies, das quais cinco dezenas são endémicas e doze não existem em mais nenhum local do mundo. Algumas são consideradas raras: o samouco, Myrica faia , é uma relíquia da época do Terciário, antigamente muito comum entre Sines e Vila do Bispo; a sorveira, Sorbus domestica , é igualmente uma raridade e, tal como a primeira, ainda observável perto de Vila Nova de Milfontes, acompanhando um afluente do rio Mira. Detectadas apenas no promontório de Sagres, algumas associações de plantas únicas no mundo, sendo o melhor exemplo a dos arbustos Junípero e Cistus palhinhae. De assinalar ainda na característica flora vicentina plantas como a Biscutella vicentina, Diplotaxis vicentina e Hyacinthoides vicentina , cujos nomes específicos ilustram de forma clara a sua distribuição geográfica restrita a pouco mais que os Cabos de Sagres e S. Vicente. Ainda mais raras são Silene rotlunaleri e Plantago almogravensis , que tinham já sido consideradas extintas quando, nos anos 90, foram encontradas pequenas populações de ambas as espécies. Extinta, definitivamente, está a Armeria arcuata , uma planta dos brejos e lagoas temporárias do planalto de Odemira, que terá desaparecido com a reconversão agrícola decorrente da instalação do perímetro de rega do Mira.
Uma questão de conceitos Árvores e arbustos têm em comum o facto de os
caules e ramos principais crescerem em comprimento através do desenvolvimento
de gemas apicais, e crescerem em diâmetro através da formação de novas
camadas concêntricas internas, e que se denomina crescimento secundário.
A diferença entre ambos está no facto de uma árvore possuir um caule
principal (o tronco) e uma copa intensamente ramificada, enquanto que
um arbusto possui vários caules com origem ao nível do solo.
Principal legislação florestal em vigor em www.dgf.min-agricultura.pt/leiflo/index.htm (caça, queimadas, espécies de crescimento rápido, baldios, incêndios florestais, planeamento florestal, protecção ao relevo natural e ao revestimento vegetal, protecção aos montados de sobro e azinho, etc). Créditos e Links:
-José Gomes Pedro, Isabel Silva Santos, fotos de Fernando Carqueijeiro, Plantas da Arrábida-Guia de Campo, ed. ICN/Parque Natural da Arrábida, 1998 |
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