Turismo e sustentabilidade
Sagres vive momentos de incerteza quanto ao seu modelo de desenvolvimento turístico. Numa altura em que se iniciou o processo de revisão do Plano de Ordenamento do Algarve (Protal), os observadores questionam: "Para que servem os planos se não há empresários interessados em investir no concelho de Vila do Bispo"? Esta foi a pergunta central do colóquio sobre "Turismo e desenvolvimento sustentável no Barlavento vicentino", realizado em 24 de Setembro, no auditório da Fortaleza de Sagres.
O encontro, promovido pelo Geota (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente), surgiu na sequência dos debates que esta associação ambientalista está a promover sobre o tema do "turismo sustentável no Mediterrâneo". O mau uso do solo, a massificação do turismo e o avanço das zonas desérticas fazem parte das preocupações de ordem ecológica representadas numa exposição que se encontra patente na fortaleza.
No que diz respeito ao concelho de Vila do Bispo, situado no extremo Oeste da região algarvia, os problemas não se colocam ainda ao nível da quantidade, mas sim da qualidade dos visitantes. O vereador José de Deus, intervindo neste colóquio, chamou a atenção para a "falta de identidade" local, lembrando que a "falta de conhecimento daquilo que somos" tem levado à descaracterização do meio. O que faz falta, disse, é "uma política específica que valorize o ambiente e atraia investidores".
A par da beleza paisagística, as mais de trezentas mil visitas anuais à Fortaleza de Sagres, dizem bem do fascínio que o mito existente à volta da figura do Infante D. Henrique exerce junto da população. Com a receita da entrada no promontório - três euros por pessoa - "paga-se toda a estrutura de funcionamento do Instituto Português do Património Arquitectónico, no Algarve," disse o Rui Parreira, director do Núcleo da Fortaleza de Sagres. Porém, esses turistas, lembrou Carlos Baptista, do Geota, vão e vêm no mesmo dia, não se estabelecendo uma relação com as pessoas e o meio.
O turismo dos desportos radicais (surf, wind-surf e body-board) está a crescer de forma exponencial, fazendo deste concelho uma zona de eleição para os amantes dessas modalidades. Os participantes no colóquio concluíram que o futuro da zona passa por uma "sustentabilidade" que evite a massificação de outros pontos do litoral algarvio.
Isabel Araújo, que organiza passeios pedestres na região, enfatizou a ideia que o eco-turismo tem cada vez mais adeptos. Afirmou que pretende dar emprego a jovens, para acompanhar grupos, mas que lhe faltam interessados. José de Deus, por seu lado, lembrou que o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, tem "erradamente" sido visto como um empecilho ao desenvolvimento, quando "deveria ser entendido como uma mais-valia para o concelho".
Isabel Araújo, dando conta da sua experiência pessoal, denunciou os jipes que devastam as dunas e a vegetação em zonas de área protegida, circulando como se fosse em terra-de-ninguém. Por isso, apelou à educação e sentido cívico dos condutores, para não destruírem o património natural. Nesses casos, retorquiu o autarca, "o problema não é de educação, é de estupidez".
Público - Idálio Revez
27-09-2002
|