Sobremariscagem: como as lapas desaparecem
Nos últimos anos, a mariscagem desenfreada nas praias naturais da Costa Vicentina tem levado à rápida regressão de espécies como o perceve, o mexilhão, o burgau ou mesmo a lapa. Esta última, porque não fazia parte da tradição gastronómica local, ao contrário do que se passa na Madeira ou nos Açores, nunca apresentou grande valor comercial e não era capturada para venda. Porém, a situação alterou-se e a apanha e a venda para exportação têm vindo a fazer rarear a espécie. Dos Açores chegam já os sintomas do esgotamento das lapas, fruto da mariscagem não sustentada. Investigadores da Universidade dos Açores (UA) apontaram a apanha ilegal como explicação para o desaparecimento, quase por completo, das lapas na zona protegida dos ilhéus das Formigas.
"Quando no final da década de oitenta iniciámos investigações nos ilhéus era possível apanhar uma média de 12 quilogramas do molusco em 30 minutos, há quatro anos só se apanhavam 400 gramas no mesmo espaço de tempo e, na última expedição, apenas se conseguiram quatro exemplares para exames genéticos", alertou o director do Departamento de Oceanografia e Pescas.
Segundo Ricardo Santos, os investigadores da UA comprovaram a existência na zona de "claros indícios de apanha ilegal de lapas".
Ao sublinhar a fragilidade das reservas de um molusco valorizado na gastronomia açoriana, o investigador disse que devido a uma apanha intensiva as lapas acabaram por desaparecer em arquipélagos como os das Canárias e do Hawai. Será a Costa Vicentina a próxima da lista? Com Lusa
25-09-2002
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